Home, quem somos, parcerias, F.A.Q

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Meu livro. A linhagem


Oiee leitoras lindas. Eu vim trazer para vocês hoje uma paixão além da moda. A escrita, como uma aspirante a escritora isso é o que eu mais amo fazer haha. Então aqui está o primeiro capitulo do meu livro mais recente. Espero que gostem.


Capitulo I

Londres - Inglaterra -1790

_Evangeline!_ ouvi Morgana gritar no andar de baixo. E ouviu passos cada vez mais urgentes nas escadas. O barulho destoante me fazia imaginá-la correndo escada acima com as pernas curtas uma maior que a outra. Sentei-me na cama larga sentindo a maciez do tecido de linho egípcio. Esperei que Morgana entrasse. Segurei uma risada quando ela parou na porta e vi a expressão no rosto dela. Sua testa estava franzida e os lábios formavam uma linha fina, como sempre acontecia quando ela estava furiosa.
_Lina, você ainda nem começou a se aprontar ainda! Você sabe o que seu pai fará se você se atrasar para seu próprio noivado!
_Acalme-se Mor, vou chegar elegantemente atrasada_ falei dando de ombros.
O rosto dela assumiu um tom de vermelho tão gritante que achei que ela poderia acabar explodindo. Ela estalou a língua em desaprovação e colocou as mãos de dedos grossos na cintura.
_Dez minutos é elegantemente atrasada. Uma hora é um sacrilégio!
Morgana foi até meu armário de madeira escura e antiga, incrustado com detalhes e prata e dourado e o revirou até encontrar o vestido mais pomposo e elegante. Mais uma noite sem respirar pensei.  Ela se virou com o vestido nas mãos, mostrando-o como se dissesse Não é tão ruim querida, você ainda tem um vestido incrível. Soltei um gemido abafado quando Morgana apertou os nós do meu espartilho até que eu mal sentisse minhas costelas. Suspirei, como se isso mudasse alguma coisa. Eu ainda teria que vê-lo esta noite, ainda teria que sorrir e fingir que estava tudo bem. Levantei-me e fiquei olhando a estante ao lado de minha cama cheia pequenas estatuetas e pequeninas lembranças de minhas viagens a Paris, Índia e toda outra variedade de lugares. Peguei uma estatueta de uma deusa indiana que ganhara de um mercador na Índia quando ainda era criança. Eu não me lembrava qual era a função da deusa, mas ela tinha feições gentis que me fizeram fechar os olhos e fazer uma prece silenciosa.
Notando a minha expressão triste Morgana se aproximou e sentou- se ao meu lado. Tocando minha bochecha perfeita com os dedos calejados.
_Minha querida, você deve sentir-se honrada, seu pai escolheu para você o melhor noivo da cidade. Imagine casar-se com alguém da realeza querida, é uma honra incomparável
Eu estava sendo atormentada por isso nos últimos meses. Todos se achavam no direito de me dizer o quão maravilhoso era me casar com o primo do rei. E depois de passar tantas horas trancada na biblioteca lendo poesia eu tinha uma idéia de como minha vida deveria ser dali em diante e casar-me com um desconhecido não fazia parte dela. Encarei o jornal em cima de minha escrivaninha. Uma manchete sobre Hector Callum, meu futuro noivo, piscava diante dos meus olhos, anunciando mais um de seus feitos de incrível diplomacia na última reunião de Whitehall, o ministério de relações exteriores. Na foto ele tinha um sorriso diplomático no rosto. Ultimamente parecia que em cada lugar em que eu ia notícias sobre esse homem me perseguiam. Eu podia ouvir os burburinhos das criadas no corredor sempre que passava, todos pareciam falar dele para mim em qualquer lugar que eu fosse. Sentia-me sendo torturada lentamente. Com meu aniversário de vinte anos tendo sido a semanas era claro que eu estava a passos de me tornar uma solteirona e precisava me casar urgentemente, como Eleanor, a mulher de meu pai, continuava me lembrando, mas eu decidirei meu futuro. Não importam quais as conseqüências. Encarei os olhos castanhos de Morgana , cheia de malícia no olhar e sorri.
_Se tudo der certo no final da noite eu não terei noivo nenhum. Eu não deixarei que nenhum homem decida meu futuro Mor_ Eu disse decidida.
Morgana arregalou os olhos, realçando as rugas de expressão por toda sua testa. Com os cabelos grisalhos levemente fora do lugar, arrepiados e aquela expressão que era uma mistura de preocupação, exasperação e carinho ela parecia exatamente como eu me lembrava dela todos estes anos. Ela cuidara de mim por toda a vida, uma vez que eu nunca havia conhecido minha mãe Morgana era a única figura maternal que eu já havia conhecido.
_Lina, você não está pensando em usar seus dons, está? Você sabe o que farão com você se descobrirem! Você será queimada, como uma bruxa.
_Você sabe que sou sempre cuidadosa com meus dons, mas isso não significa que eu tenha que deixar de usá-los por que todos dizem que tê-los é errado.
Morgana abriu a boca como se fosse protestar, mas logo a fechou novamente e suspirou, sabendo que estava em uma batalha perdida.
_Oh filha, você é especial, você têm um dom maravilhoso, mas deve aprender a usá-lo com sabedoria
Morgana virou as costas e voltou a vestir-me, sem dar mais nenhuma palavra, seus dedos ágeis trabalhando por todos os padrões intrincados de meu vestido. Segurei-me para não revirar os olhos, odiando cada segundo de toda a responsabilidade que residia em meus ombros por ser a filha de um dos homens mais importantes da cidade. Encarei a enorme pintura envolta em uma moldura dourada que eu mantinha bem acima de minha cama. Era um retrato de minha mãe. Os olhos da cor de esmeralda exatamente como os meus, os cabelos louros quase dourados caindo em ondas delicadas sobre as costas e a pele tão alva quanto leite. Ela tinha uma expressão engraçada no rosto, um sorriso travesso, como se escondesse um grande segredo, mas os olhos me pareciam tristes na pintura. Sua mão pairava perto de um medalhão de ouro com um R bem grande marcado na frente e um pequeno coração de rubi como fecho. Eu me parecia muito com ela. Na não tinha nada em comum com meu pai. Essa pintura era a única pintura na casa inteira de minha mãe. Tive que salvá-la de uma fogueira onde meu pai queimou todos os seus pertences, e mesmo assim meu quarto era o único lugar onde meu pai permitia que eu colocasse seu retrato. Sempre quis saber onde estava o pequeno medalhão, mas desconfiava que ele estivesse perdido para sempre junto com as lembranças de minha mãe que Julian enterrara.
_Minha pequena estrela guia, você está deslumbrante!_ Morgana falou tirando-me de meus devaneios.
Dirigi-me ao enorme espelho em meu quarto, observando meu reflexo. Um longo vestido caia como um lago negro sobre o céu da meia-noite sobre meu corpo cheio de curvas, o tecido pesado e delicado destacava minhas belas formas, um lindo colar incrustado com pequenos rubis pendia entre meus seios fartos, combinando a cor rubra de meus lábios destacados como sangue sobre a pele muito pálida. Grandes olhos verdes como esmeraldas me encaravam desgostosos de volta no espelho  e por fim meus cabelos dourados caiam em ondas delicadas e perfeitas até a cintura, mas grandes olheiras chamavam atenção em meu rosto, resultado das noites sem dormir...por causa dos pesadelos.
 Tudo em que eu conseguia pensar era que trocaria tudo àquilo, a riqueza, os criados, tudo para ser normal, nem que eu tivesse que ser uma simples camponesa. Nem que eu tivesse que trocar a perfeição pálida de minha pele por uma castigada pelo raro sol de Londres. Tirei os olhos do espelho. Eu sabia como ninguém que lamentar-se nunca adiantara, então porque fazê-lo?
_Vamos Mor. Estou pronta
Morgana sorriu para me encorajar, os olhos castanhos brilhando como os de uma menina, era até fácil esquecer quão velha ela era.
Eu me apoiei nos braços dela e respirei fundo, me preparando para a noite que seguiria.


Desci as escadas para o grande salão, onde meu pai sempre fazia seus bailes luxuosos no qual eu era obrigada a comparecer. Todos os rostos se voltaram para mim. Desde homens elegantemente vestidos que a encaravam com desejo a mulheres com seus vestidos de milhões de camadas que encaravam com inveja. Burburinhos se fizeram ouvir sobre o som da orquestra. As mulheres, sempre um passo atrás de seus maridos, sussurravam umas com as outras e exibiam seus modos perfeitos.
O salão estava decorado com mil candelabros, uma longa mesa no centro servia um banquete. A luz suave conferia ao ambiente um ar de mistério. As sombras se projetavam na parede de pedra e formava padrões intrincados. Músicos tocavam uma canção suave para que vários casais dançassem com graça. Alguns dos homens admiravam as obras de arte pelo salão, fazendo comentários  que deveriam provar que eles eram inteligentes e cultos, mas não provavam nada além de hipocrisia.
Morgana me soltou e lançou uma de suas caretas irritadas que expressavam mais do que uma pessoa normal conseguiria dizer em uma frase inteira.
_Não faça nada do que possa se arrepender depois Lina
 Ela tocou meu rosto de leve e suspirou com um ar de Não sei o que fazer com você Lina e foi para a cozinha antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Nem mesmo Morgana poderia me convencer a ser alguém que eu não era.
Eu ainda estava presa em meus devaneios quando senti uma mão em meu ombro. Um homem me chamava para dançar. Tentei conter um gemido. Um homem baixinho e franzino me estendia a mão. Sua careca reluzindo de um jeito estranho.
_Srta. Bennet conceda-me o prazer desta dança_ o homenzinho falou
 Aceitei com relutância e coloquei minha mão na sua me arrependendo no mesmo instante por causa disso, a palma da mão suada e os dedos grossos me davam uma sensação de mal estar. E o fato de que o homem tinha a metade da minha altura me fazia querer gargalhar, se essa dança durasse  eu tinha certeza que olhar pra baixo por tanto tempo poderia me dar uma dor no pescoço. Como se isso não fosse o suficiente ele não se cansava de se gabar de seus negócios por toda a cidade. Eu parei de ouvir mais ou menos quando ele chegou na parte onde contava sobre seu vinhedo na França. Tentei me lembrar quem ele era. E com esforço lembrei-me que ele era o Sr Evans.
Depois que ele me deixou em paz vários outros vieram e eu não me dei ao trabalho de se lembrar o nome de todos eles. Simplesmente obriguei os pés a se moverem no ritmo da música.
Quando mais um homem me chamou para dançar. Pensei que poderia surtar. Deixei uma desculpa na ponta da língua. Até me virar para ver quem me encarava. Os olhos âmbar brilhavam travessos, os cabelos castanhos perfeitamente alinhados, o nariz meio torto por já ter sido quebrado várias vezes. Ele sorria para mim. Dessa vez tive que me conter para não colocar os braços em volta de seu pescoço em um abraço apertado.
_Albert! _ exclamei
O rosto familiar que me encarava me trazia inúmeras lembranças da minha infância. A cicatriz embaixo do lábio inferior me fazia lembrar do outono quando o desafiei a uma corrida nas margens do Tâmisa e além de uma derrota ele ainda sofreu uma queda no porto onde quase perdeu dois dos seus dentes. Até mesmo sua forma esculpida e peito largo me faziam lembrar-me de quando ele era franzino e magrelo e eu conseguia bater nele sempre que queria, agora com uma cabeça a mais de altura que eu ele quase não se parecia com aquele garotinho. Eu quase não conseguia me lembrar da minha vida antes de conhecê-lo. Devido aos negócios que nossos pais faziam juntos desde que éramos crianças eu convivia com ele desde então, mas se há algo do qual eu posso ter certeza é que Julian odiaria se soubesse que somos tão bons amigos até hoje. Nem mesmo todo o dinheiro que a família de Albert tinha (que ele vivia perdendo em jogatinas em mesas de pôquer por todo o país) nem mesmo isso faria Julian aceitar que eu quebrasse uma regra muito importante. Nunca ficar sozinha com homens  com os quais não pretende se casar um dia. Então sempre que podia (ou quando não estava caindo de bêbado em algum lugar) Albert vinha ver-me escondido ou acompanhava seu pai Lord Heron em suas visitas para que conversássemos por horas a fio. Afinal quem suporta as conversas intermináveis de nossos pais a monarquia? ( E ainda dizem que são as mulheres que falam demais).
_Me daria o prazer dessa dança?_ ele disse com uma formalidade fingida que usávamos em público e sorriu.
_Mas é claro_ estendi minha mão para ele em um floreio desnecessário
Os dois logo se misturaram a multidão de pessoas que dançava e pela primeira vez na noite eu não desejei que a música acabasse logo.
_Eva, você deveria colocar um sorriso em seu rosto, ou logo vão achar que você está aprontando alguma coisa.
Ele piscou para mim.
Eu sorri. Albert sempre sabia o que se passava na minha cabeça.
_Eu tramando alguma coisa? Até parece que não me conhece_ eu ri
Ele levantou uma sobrancelha indagadora, mas mantive meus lábios selados. Se ele tivesse sorte poderia ver minha pequena performance de ´´ noiva perfeita `` em primeira mão esta noite. Ao perceber que eu não diria nada Albert logo mudou de assunto.
_ Vi você com aquela linda camponesa ontem, você deveria me apresentá-la.
Ele olhava para uma linda garota de cabelos castanhos que acompanhava a filha um comerciante riquíssimo e se mantinha sempre a dois passos de sua senhora, parecendo assustada por estar cercada de tantas pessoas. Eu sorri.
_Você pretende casar-se com ela Albert? _ disse brincando
Albert fez uma careta, ele achava casamentos um desperdício de tempo e vitalidade. Mas tinha um dom natural para corromper garotas aparentemente inocentes. Revirei os olhos. Mas por via das dúvidas era melhor tentar mantê-lo longe da pobre dama de companhia.
_logo você é quem estará casada _ ele disse olhando-me piedoso e me girando em mais um rodopio.
_Não se esta noite ocorrer como planejado, eu serei tão odiável que a idéia de passar a vida comigo será repugnante para ele _ disse
Ele apenas me olhou debochado.
_Eva, ele não vai ligar para o quanto você é insuportável enquanto você tiver esse rosto de anjo.
´´ É o que veremos `` pensei.
 Dançamos por mais algum tempo falando sobre coisas frívolas. Até que eu senti aquela sensação incômoda que vinha me perseguindo nos últimos meses. Um frio na espinha que fez os pelos do meu braço se eriçarem. Eu podia jurar que alguém me observava. Percorri o salão com os olhos, procurando. Percebi um homem entre os pilares me observando com olhos insondáveis. Ele estava parcialmente escondido nas sombras, mas eu ainda podia ver o quanto ele era bonito. Seu queixo fino e bem definido, os lábios rosados e perfeitos e cabelos negros contrastando com todo a sua palidez, os olhos eram acinzentados, como o céu logo antes de uma tempestade. Ele vestia uma capa preta que o fazia se misturar as sombras. Sorriu para mim causando um arrepio em minha nuca. Meus pés se moveram em sua direção quase sem que eu notasse, mas em apenas um piscar de olhos ele desapareceu nas sombras um segundo, tão rápido que cheguei a pensar se ele não era apenas um fruto de minha imaginação.
_Você está bem?_Albert perguntou
_Sim, estou ótima _ respondi distraída, mas minha resposta não convenceu nem a mim mesma.
_Tem certeza quanto a isso? A última vez que a vi tão distante foi quando roubou aquele anel de safira de sua irmã? Lembra disso?
Eu estava tão distraída com a imagem  os olhos de tempestade do homem gravada em minha mente. O que podia ou não ser uma alucinação que não ouvi realmente o que Albert dizia ou notei a aproximação de minha irmã ( leia-se cobra traiçoeira).
_Oi irmãzinha _ uma voz fria me cumprimentou.
Eu me virei e dei de cara com minha irmã mais velha, Margaret, ela vestia um longo vestido cor-de-rosa os cabelos tinha o mesmo tom dourado que os meus, mas os olhos não eram esverdeados e grandes, mas sim da cor da terra, como os do pai. A pele era um pouco mais bronzeada. E ela me encarava como se pudesse arrancar minha cabeça a qualquer instante.
_Como vai Sr. Gray?_o olhar de nojo para ele foi dez vezes pior.
Albert lhe deu um sorriso amarelo.
_Estou ótimo adorável Srta. Bennett. É sempre um prazer revê-la _ o olhar no rosto dele dizia que ele também não hesitaria em cortar a cabeça dela fora.
Margaret o ignorou mesmo quando ele se abaixou e sussurrou em meu ouvido.
_A louca chegou como sempre a tempo de acabar com qualquer diversão, eu costumava me perguntar por que ela não cedia as investidas de um homem como eu, mas logo notei sua insanidade então tudo passou a fazer sentido
Albert não se deu ao trabalho de falar isso baixo suficiente para que Margaret não o ouvisse, mas Margeret agiu como se ele não houvesse dito nada. Faria o mesmo efeito provocar uma porta.
_Seu noivo está procurando por você _ Ela informou
Esforcei-me para não fazer uma careta. Estava prestes a perguntar onde estava Willian, o marido dela, mas não me dei ao trabalho. Eu quase nunca via Willian desde que ele se casou com Margaret. Ele estava sempre no centro cuidando de algum negócio, não que eu me importasse. Willian era exatamente o tipo de homem que agradava a Margaret, ou seja, não lhe dava valor algum, e rico, pomposo e egocêntrico. A única coisa que me incomodava nisso era que quanto mais ausente Willian ficava mais as visitas de Margaret se tornavam constantes e ficar muito tempo ao lado dela podia causar danos a minha sanidade. Albert se inclinou até meu ouvido
_Vá conhecer seu noivo, eu vou falar com aquela linda camponesa ali.
Antes que ele terminasse a frase Margaret estava me arrastando baile adentro.
_Você não precisava ser tão rude
_E você não deveria passar tanto tempo dançando com um homem que não é seu noivo. Vai acabar envergonhando a família se continuar se comportando como uma meretriz.
 Senti a raiva borbulhar em meu âmago e desejei não estar no meio de tantas pessoas para fazer com a irmã o que ela merecia. Senti uma onda de ar frio percorrer o salão, e logo depois uma bandeja cair no chão. Respirei fundo e tentei me acalmar, a última vez em que ficara furiosa quase destruí a casa.
_Minhas companhias não são da sua conta _ disse
Margaret a olhou com desprezo, e depois me ignorou completamente e fiquei feliz em seguir seu exemplo.
Ela parou em um canto mais isolado do baile, onde um homem alto virado de costas as esperava. Aproximei-me em passos firmes, tentando mostrar  com minha postura que eu não seria um objeto de sua diversão. Ele observava uma pintura que demonstrava a última caça às bruxas na cidade a mais de um século. Uma mulher muito feia, com chifres e presas queimava em meio a chamas de um amarelo exagerado enquanto dúzias de cidadão erguiam tochas com olhares famintos fixos na fogueira. A pintura era a idéia que Julian fazia de um aviso silencioso e eu estaria mentindo se dissesse que não me causava arrepios.
 Margaret murmurou alguma coisa sobre ir procurar por Willian e foi embora.
O homem se virou. Os olhos negros como um abismo a encararam com um brilho malicioso e faminto no olhar. De repente senti frio.
_É um prazer finalmente conhecê-la Srta Bennett.
A voz dele era fria como aço. Os cabelos louros criavam um grande contraste com seus olhos negros, tinha uma pele macilenta a nariz aristocrático e mesmo sendo levemente franzino ele emitia uma aura de poder que me dava calafrios. Tinha no peito várias medalhas expostos orgulhosamente sobre uma faixa vermelha. Usava um casaco com botões de ouro e um tecido rico ajustado exatamente para ele.  Vendo que eu não respondi nada ele disse:
_Eu sou Hector Callum
_Eu sei quem você é_ disse com a voz fria e indiferente.
Hector não se deixou abalar pelo meu comportamento e fez uma reverência estendendo a mão para uma dança. E relutantemente nos misturamos aos casais que dançavam pelo salão.
_Estou feliz em tê-la como minha noiva _ ele disse devagar, como que esperando que eu absorvesse as palavras e pulasse de alegria.
_Eu não posso dizer o mesmo.
Ele mais uma vez a ignorou. Hector segurava sua cintura de um jeito possessivo, prendendo-a em seu abraço. Ela se sentia como um animal que acabava de ser preso em uma armadilha. Estava prestes a empurrá-lo para longe quando notou o pai com os olhos grudados nos dois em alerta. O rosto severo e marcado pelo tempo, a barba longa começando a ficar grisalha e os olhos cor de terra eram cruéis mesmo quando ele conversava com Lady Marshall e fingia-se de encantador. Eu quase sentiria pena da esposa de meu pai, Eleanor, se ela não fosse uma cobra.
_Você é ainda mais linda do que eu imaginava. Posso dizer que os rumores sobre sua beleza são fiéis a verdade.
Os olhos de Hector eram novamente famintos.
_E no final isso é tudo que importa não é mesmo?_Eu disse insolente.
Hector não deu nenhum sinal de irritação, continuava com um sorriso falsamente estampado no rosto bonito. Soltei-me de seu abraço com esforço.
_Eu tenho que cumprimentar os outros convidados.
E se virou para ir embora, mas Hector agarrou seu pulso firmemente. E quando  o olhei novamente ele não sorria mais. O rosto assumira traços cruéis. E os olhos estavam em chamas.
_Não é educado deixar seu futuro marido falando sozinho Srta Bennett.
_Também não é educado ignorar os convidados Sr Callum
Ele ficou ainda mais furioso, deixando-a com um frio incômodo na barriga.
_Você não precisa deles, a partir de hoje você é minha
Essas palavras me encheram com uma fúria sem controle, eu odiava ser tratada como propriedade de quem quer que fosse. A raiva toldou minha visão e deixou minha respiração irregular. As chamas de todos os candelabros se apagaram e logo depois acenderam novamente.  Um ruído agudo indicava que mais partes do banquete estavam caindo no chão. Senti o poder pulsando em mim, prestes a consumir-me. Eu sabia que se não me controlasse logo causaria uma tempestade no salão. Ou até mesmo um incêndio.
_Eu não sou um objeto para pertencer a ninguém
 Soltei-me de seu aperto, deixando-o perplexo. Observei a reação das pessoas ao meu redor como se tudo estivesse estranhamente lento. Em um momento as pessoas dançavam, conversavam e riam e então lentamente perceberam que havia algo terrivelmente errado acontecendo. Várias pessoas começaram a correr e gritar desesperadas, algumas ainda pareciam confusas, mas tudo que eu via eram a curiosidade fria e furiosa de Hector. Corri para um canto escondido atrás de um pilar, o vento batia forte em meu rosto como se eu estivesse no olho de um furacão. Tentei me acalmar enquanto meu pai gritava tentando acalmar os convidados.
Com muito esforço e depois de quebrar praticamente toda a lousa eu finalmente consegui parar o fluxo de energia correndo pelas minhas veias. Mas o salão ainda mostrava bandejas de prata caídas no chão e um candelabro de vidro quebrado em mil pedacinhos. Os convidados pareciam confusos e perdidos.  E isso era apenas o começo de uma tempestade, se eu não me controlasse eu não sabia o que restaria da tão preciosa mansão de Julian. Acima do barulho de todos eu ouvi meu pai gritar.
_As janelas foram fechadas, podemos voltar ao baile!
Era possível que só eu tivesse ouvido a falsa calma no tom calculado que Julian escolhera? Somente eu podia notar o nervosismo com o qual ele olhava de um lado para o outro buscando no rosto das pessoas se elas acreditaram nele ou não? Mas é claro que eu era a única. Se havia alguma coisa que eu poderia ter em comum com Julian era que ambos éramos muito bons em guardar um segredo.
E no meio de toda a confusão eu avistei um homem charmoso que me encarava novamente com lindos e insondáveis olhos acinzentados.


Beijinhoss

By: C. Vernon

4 comentários:

  1. Nossa *-* AMEI! Você vai publica-lo? Já quero! rs

    Beijos.
    http://keziahraiol.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  2. Quem bom que gostou!
    Espero que possa publicá-lo em breve.

    bjinhoss

    ResponderExcluir
  3. Quer dicas? Vai no site do PerSe, eles publicam autores independentes.
    http://perse.doneit.com.br/default.aspx

    ResponderExcluir